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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A dança que nos cega



Em segundos me vi envolvida
numa atmosfera de meia-luz vermelha

tensamente morna
que incendiava meus sentidos
e recobria meus olhos marejados
com fina superfície doce.
Era o entorno.

Era ele, com olhos de ressaca
Enlouquecendo na pista
com o som,
com o giro no escuro
do mundo.
Foi assim, quando me pediu um beijo
nada além de um beijo
Sem pesar muito, o dei,
com a alma
condensada na boca.
Lábios, língua, olhos em transe.
Assim percebi no exato instante

em que meus pés ficaram
sem um ponto de apoio

que o mesmo abismo que me conduzia
à queda-livre
também me emocionava e
trazia sublimação

Trazia um ritmo descompensado
a minha dança
em uma noite sem fim.
Nada mais do que uma outra noite
em que o amanhã se funde com a chuva,
com o sol disfarçado
com as notas no asfalto

com a flor que resiste ao medo

e à falta de contato.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"E a alma aproveita pra ser a matéria e viver..."



A lua ainda brilha
com direito a uma corda bamba iluminada
pela névoa adocicada de seus sonhos.

Sim, estamos acordados.

Quando seguiremos com passos transversais?

É a hora.
O acorde e a singeleza do movimento,
da arte e da destreza...
Somos mais do que uma única massa.
Somos a possibilidade atômica, redimensionada
sem versos, sem prosa
A única verdade possível
no dia que existe sem amanhã.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sinestesia: a percepção aguçada em meio à explosão insone


"De olhos fechados, não me vejo"


Pensei em tornar estas palavras públicas para quem sabe, alguém mais entenda um sentido maior para este "tratado" se é que posso chamar assim...

Você entende bem quando digo que estive cansada, querendo me ver engolida pelo chão em um ciclone invisível. Este cansaço veio de um coração que aprendeu a viver pulsando freneticamente. Quando chega perto do "quase" parar, é hora de me ver dentro desta escuridão tão difusa e não menos densa. Esta escuridão também cega e desata uns outros tantos sentidos. É na escuridão que sinto a definição de formas e o sabor de cores vivas.

Vejo-me deitada em uma piscina de maçãs-verdes e mesmo que sinta vontade de bater braços e pernas procurando uma fonte límpida, algo com algum significado quase místico segura os movimentos, criando uma "quase" inércia que é o desafio das fronteiras com o resto do mundo.

Confesso que às vezes sinto medo ao fechar os olhos. Medo de não enxergar a realidade que minha mente decodifica. Medo de abrir os olhos. Pois ao voltar, a viagem revela o querer intrínseco e rejeita toda e qualquer ilusão criada há tempos pelo sistema.

O sistema pode ser condicionante e ele já me sufocara tantas vezes que preferi habitar a linha tênue entre mundos. Para reinventar talvez a possibilidade de ser e deixar de ser em segundos-luz... Demorei um tempo ou um espaço para perceber que as reinvenções também podem ser ciladas de um jogo de ilusão mortal. E não é exagero falar em "mortal", pois o que vejo ao meu lado é um exército de zumbis que já abriram mão de viver e sonham com um tempo de sobrevida que lhes parece a fórmula da felicidade.

E de que é feita esta viagem sem volta? Quais os passos dentro desta dança circular de desencanto? "Desencanto" que não é triste nem sôfrego. É simples despertar da manhã.

Existir uma busca maior é a própria viagem. É reconhecer em outros olhos a própria chama especular da expressão de humanidade. Aprender a sorrir e chorar com todos os vícios que um mundo doente apresenta desde muito cedo. Entender que o pulsar também se solidifica a cada minuto engavetado. Que a carne é fraca e perde a rigidez com uma alma subnutrida...

Não quero parar, não tenho medo do que ficou para trás... As pedras têm sua poesia, assim como o sangue do animal ferido. Esta é uma guerra com uma dualidade dilacerante, sim. Deixei para trás o colírio, o véu que cobrira meu rosto, o poço transbordando experiências e várias pedras que um dia virarão estrelas, quem sabe? Por que será que quando falo em caminho, algo tão sedimentado e árido se forma no imaginário?

Caminho por um tapete tridimensional que a qualquer momento pode entrar em um buraco-negro no espaço. Talvez não haja o outro lado... e o espelho seja o infinito. Mesmo que entre e que perca o tapete que me carrega, estou pronta para me testar e assumir esta condução que pode ser uma queda magicamente alucinante de uma Alice sem país ou maravilhas, ou apenas um fim mais próximo da explosão.

Afinal, somos luz...




Para F., com estima.

Le Grand Finalle: não há expectativas neste tabuleiro suspenso


...

É mais fácil manter o platonismo do amor casto inatingível quando optamos por terminar uma história antes do grand finalle...

É o platônico desejo que arrebata os sentidos mais refinados.
Desejo de se ver em um desenho perfeitamente alinhado com o pôr-do-sol no horizonte, com a superfície da maçã vitrificada pelo doce sabor, com um céu estrelado e com a sensação da serenidade que se apresenta tão palpável.

É o platônico pensamento que transforma uma história em um caminho de regeneração, de transcendência e de sabedoria superior.
E nada mais é do que a ilusão estéril que finge suportar a solidão real e verdadeiramente possível, sem peças perfeitas, nem passos demarcados...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O cego e a serpente

Não mais que de repente
no segundo surdino
a serpente ondula uma dança trepidante
E envolve o cego, cansado da estrada
com buracos irregulares (seriam reais?)
Descompassado corpo, sem ver
horizonte algum que justifique
um nascer do sol
uma lua em sonata.

O cego e a serpente
seguem, amantes
em veias obliterantes
e possível apenas para os seres
de memória sensorial.

Sem memória, não há pecado

não há um único juízo final
Só existe a supremacia
latente
o prêmio intocado
a música arquitetada
e os sentidos dilatados.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Nos tempos de corrente, uma afonia aberrante




Um grande susto com o grito

que o tempo não silenciou

Um estar tão intransitivo

quanto alegórico

Um sentir tão insustentável

quanto as molas que romperam

a suspensão helicoidal em plena queda

Isso foi ontem...

o passado parece tão distante

E tão dentro que já virou uma vitrine

luminescente sem janelas.



Fora não existe
Está tudo ali
ao lado de
à espera de alguma
onda sinestésica

onde a onda lava a minha alma
onde a dor é doce
como a vida



Transladação


O UNIVERSO


Galáxia e mente em dispersão cósmica

Ali, fiquei

sentada sem sala de espera

sem chá, nem poluentes visuais

Fiquei sentada, com pouco sal

e sem lentes ou orifícios mágicos

a traduzir ou transgredir

a elipse que o tempo formava.




Por fora da ostra...



Hora de sair
de casa, da sala,
do olho do casulo.
Hora de descer as escadas
e olhar para as sombras
até se sentir cegada.
Hora de esticar as mãos,
a carne, o corpo
e dilapidar cada verdade
com uma resiliência quase supérflua
quase sublime
e quase invisível à
deformação humana.