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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Água viva





Os cabelos estavam contrários

ao vento

A roupa já havia se fundido com o

corpo-matéria

Nada além de uma alma nua,

o giro na claridade absurda do dia

o salto na escuridão sedutora da noite

o movimento que precede o abismo

um mergulho na imensidão

dos sentidos, ouriços, anêmonas,

oceano em chamas

o vento na boca

a liberdade proferida

a dor estanque

a alegria desmedida.





Não sei do mar nem do porto que avistava
há tempos
Sei de cor as cores múltiplas
dos olhos sedentos de Netuno
Vou ao encontro, um mergulho
e do lado de dentro tento destruir as comportas
Tudo é pesado demais, e preciso da leveza pura
dos raios que penetram na água-viva
de minha alma.



É dentro da maçã que a borboleta sonha com as asas...



Sem devaneios

isto é um grito literal

que rompe e recorta a noite em retalhos.


Sem tecidos,

a nudez tão reveladora e pura

que consome vísceras em luxúria.


Sem adornos,

nem consolo frágil em peças de ouro branco e marfim

que queima a retina com um degelo contínuo.


Sem topázio, sem lirismo.

Apenas uma túnica feita de brincação

lúdico com lúcido sentido

um clarificar do dia, dos olhos que fitam

o mundo de dentro de uma maçã

indefectível.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dissolução



Em busca de um porto
que abrigue a alma e o coração bandido
Um porto de pedra, cercado por areia movediça
que engula o ópio, o ócio, o cio da terra
digestão combustiva pelos ares

de um céu carvão anil


Em busca de nuvens
que desfaçam a formação de margens

Não há um só caminho,
uma única direção contínua...

existe o entorno, e mil voltas em saias flutuantes

em um céu rubro escarlate

O contraste é pouco, tamanho da obra humana

O porto não existe, acima do imaginário

A palavra já fora pronunciada, em tempo disforme
A música cintilou em um grito de espanto
E hoje não existe nada que recrie
a ordem,
as linhas, ou as margens.
Está tudo em uma suspensão metafísica

Esperando que o ar seja apenas ar

sem espaço, e sem letras revestidas.

Uma rosa flutuante




Que estranha leveza
carrega sem perceber
meus passos e asas
ao encontro com o desconhecido?

Que estranha destreza essa
de voar sem pedir licença
sem saber o dia
em que o sol derreterá
mentes insones
sem saber o dia
em que a chuva
levará idéias derrocadas
e espelhos quebrados?

São apenas estilhaços
de um verão sem fim.
O vidro quebrado,
o tempo reguardado
volta e areia vira,
areia viva,
rosa mística,
grão flutuante.


Soundtrack: Moby - Porcelain.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O salto: sou ilha também...



De água somos feitos

da água partimos

para a água voltamos

em torno da água deixamos

o horizonte

deitar-se

e do alto da pedra mais alta,

sobrevivemos a mais um naufrágio...




Tentar

Trucidar

Desafiar

Mortal contra ondas, da ponta da pedra.

Não há sobrevida,

Apenas um mergulho

Um convite, sem carta marcada

sem lenço, nem lágrimas para a despedida...