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terça-feira, 19 de abril de 2011

A terra de gigantes budistas



Grandiosa e onipresente, a alegria chamativa de tantos olhos puxados se perpetua. Com o calor cadenciado de suas avenidas, entrecortadas por telhados pontiagudos de ouro dourificando bons sentimentos. Água para beber, borifar, apaziguar, plurificar a emoção. Em meio à massa úmida, e nem um pouco uniforme, uma miscelânia cultural que cabe a troianos, mustafás, xiangs, masais, vikings, e tupiniquins como um pout-porri linguístico transcedental. A alegria entre o balanço das vestes budistas esparrama sonoridade entre vozes ressoantes, vozes de fé na vida, no mundo, no amor. Nem tão puros, nem tão insanos, são eles seres divinos com certa malícia pronunciada, com a espontaneidade que provoca encanto, dúvida e indefinição. Uma mistura apimentada entre simbolismos da realeza, e realismo crú com vestes naturalistas, que escracha demônios e evoca sonhadores.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobre a carne


Jung queria ser malabarista, poeta, socialista. Queria na ânsia de ser, esquecer e aprender a voar. Entre partículas esfumaçantes de seu noodles de arroz, sentia o aprazível calor entre poros, um mormaço crescente que tomava parte de seus movimentos. Sem sofreguidão e, não menos sincero, observava o circular de corpos humanos, porcos, caprinos, bovinos, em uma sanguínea visão da animalização racional. Razoável seria sentir os respingos de sangue fresco entre flechadas cravadas numa tábua de madeira maciça, para reverberar os fatos. Sangue puro e espesso, impregnado entre mesas com cadeiras distribuídas aleatoriamente, sob a luz de um interrogatório hitchcockiano.

sábado, 13 de novembro de 2010

Insônia




O momento em que o sonho torna-se a realidade sem que eu perceba; vejo formas, ouço vozes, acompanho os movimentos.
Gesticulo pouco para cessar vertigem.
O sonho dentro de mim mesma, ganha vida, e saí para fora.

Quando vejo já estou de pé, retorno à cama em uma nova tentativa.
Tentativa do quê? Salvar o mundo? Minha pele? Reviro um suspiro, aflito.
Não tem jeito. Preciso andar.
A noite silencia passos tortos com o ruído de grilos selvagens.

A sonoridade dos meus pensamentos suspira algo:
o tempo. Tic Tac bate em minha porta entreaberta.
O distanciamento de ponteiros deixa-me desconfortável, a ponto de eu correr do meu vazio em busca de um sentido.

Os minutos serenos são compassíveis de dúvidas.
Serei mesmo esta que acorda? Que sonhos trago em minha memória?
Confusa visão de lugares e meteoros.
Confusas cores.
Acordo o sol, para que dele sorva um chá de fantasia.










terça-feira, 24 de novembro de 2009

Silencio


O silencio nao me corrompe mais
aflito
soluco que brotas em pano de linho cru,
revelado.

Nao quero a hipotese obscura
do que me ofende e traz dor

Nao quero a arma estanque
jogada no chao de asfalto fumegante

Nao quero a duvida corrosiva 
de dias em que nao tive noites

Quero em vida, a vida
que sofregamente palpita em rima
sublima e sublinha a linha incolor.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Um grito de amor" - enquanto você finge que não me vê...


Povos

áfrica-mãe

áfrica-amor

unidos pelo sentimento de origem

a força-amor

clamor pela vida

a veia pulsante do homem negro

que renasce em cada canto

cântigo semblante

do ritmo e movimento.


Não é o grito de dor,

de sofrimento,

é o uivo de amor

pela terra, pelo povo, pela história

um grito de alegria

que dança e ondula

cadente volúpia

do ser negro que quer ser o olho do mundo,

um olho duvida.

que seja energia vital

que brilha e vibra com batuques

próprio movimento de vida

natureza impetuosa

que traduz em dança

a expressão

da pura alma transcendente.



Imagens: Renan Rosa, com um coração genuinamente africano.




sexta-feira, 15 de maio de 2009

Saindo dos sonhos



Sim. Ela me disse que vivia em sonhos.
A ingenuidade transborda e constrasta com a podridão humana camuflada. Nunca vi ou ouvi bom senso. O que sinto é uma amplificação do ser pequeno, aquele que "precisa ser", que precisa provocar, que transgride a generosidade decente de alguns, pelo ego. "Quero provocar". "Quero saber se ainda sou..." Que piada, gênero humano. Nem quero escolher palavras para ser melhor ou pior entendida. Não sou a moral, nem a extensão de frases cristãs. Sou feita de carne, de senso crítico, e sentidos. Alice no País das Maravilhas viu a Rainha de Copas correr, arredia, com uma aflição dos que não pagam para ver. Fracos. Estou cansada. Agradeço a benevolência de ter criado mais portas para a queda-livre. Alice não pode com tantas cores mesmo, é preciso cautela para acreditar nas pessoas. A não-esperança transforma minha paz com uma atemporalidade sedutora. Chega de achismos. O crú é o amargo chocolate dos meus dias. Sem dor, sem nada. Apenas tédio por ver a representação, a falta de lealdade, o jogo dentro do jogo. Pedi a ela que nem chegasse perto. Pedi em silêncio, secretamente. Sigo agora com a serenidade que incomoda a prostituição da mente. Quero distância de tudo que soa superficial. Isto não é um desabafo. É um tratado, para a lucidez humana...



*Imagem - Magritte

segunda-feira, 9 de março de 2009

"A versão nova de uma velha história"

Furacão,
me derruba?
Estou pronta.
A erva-doce
tomou meus sentidos
e deixou discreto aroma
nos fios das minhas incertezas.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Mais sobre o fogo... (ou foge de ti mesmo)


Tem dias em que me cansa

a falta de coragem para buscar sobrevida

eu subverto padrões

sem estética definida pelo figurativismo

não me dobro à influências

nem incendeio palanques


Incendeio a mim, derreto meus olhos

giro e danço, salto ao fogo

que me detém, longe da moral dos outros

que me retém, em um círculo obtuso


Você é capaz de ver além da chama?

Qual a forma desta miragem?

O movimento e o som são tribais

crús, meus ombros estão nus


Você é capaz de sentir o que te consome?

Qual a cor desta fusão latente?

O sopro e o grito te confundem,

avulsos, meus ouvidos estão no vácuo


Um abismo em chamas

Eu te chamo para saltar

Um portal de fogo, te incendeia?

Você ainda diz que está escuro e faz frio...






Faça, Fuce, Force

(Raul Seixas)


Faça, Fuce, Force

Mas!

Não fique na fossa

Faça, Fuce, Force

Mas!

Não chore na porta...

Faça, Fuce, Force

Vá!

Derrube essa porta

Trace, Fuce, Force

Vá!

Que essa chave é torta...



-"Os meus fantasmas

São incríveis

Fantásticos, extraordinários

Se fantasiam de Al Capone

Nas noites que tenho medo

De gangsters

Abusam de minha

Tendência mística

Sempre que possível

Os meus fantasmas tornaram

Minha solidão em vício

E minha solução

Em Status Quo

Ai! Meu Deus do Céu!"


Faça, Fuce, Force
Mas!
Não fique na fossa
Faça, Fuce, Force
Mas!
Não chore na porta...
Faça, Fuce, Force
Vá!
Derrube essa porta
Trace, Fuce, Force
Vá!
Que essa chave é torta...


-"Feliz por saber

Que só sei, que não sei

Q quem sabe não fala, não diz

Vida, alguma coisa acontece

Morte, alguma coisa

Pode acontecer

Que o mel é doce

É coisa que eu

Me nego afirmar

Mas que parece doce

Isso eu afirmo plenamente"

Lágrima: clarificai a tormenta...




Minha fantasia ficou pronta

e não tive forças para a subida

minhas pernas tornaram-se pesadas

o meu sorriso não me mascara

a luz do princípio da noite

precipício


Você escolhe o precipício

e a sorte da queda em outro caminho

sem olhar para dentro

e dilacerar a verdade com golpes precisos


Você se esconde do lado de fora da noite

na movimentação que não me convence mais

sem ser digno com o revés do sentimento

e estrangular a verdade com mãos de ouro fundido


Deixei que o bloco passasse

passasse o tempo de ser

o tempo de deixar de viver em erros

o tempo de deixar partir em duas partes

um sonho


De olhos fechados não me vejo

só sinto uma chama oscilante

que explode o prenúncio de racionalismo

que alimenta meu pulsar

e recria o amor que tenho que deixar...


deixar ir, com a água

deixar partir, com o vento

deixar frutificar, em outras terras

deixar consumir, com o fogo


Deixe-me só

sem mim

só deixar de estar

em um ser

só.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Prólogo

De repente percebi que
sinto necessidade deste espaço virtual, mas de certa forma vejo que houve uma extrapolação de quereres. acabo dividindo coisas e falta de sentido com pessoas que não fazem absolutamente idéia do que vivo, ou sou. isso dá algum barato? para muitos sim. re-conhecer a si mesmo na fala do outro. ou necessidade de expansão. não sou das palavras, acho que meu lance é o trapézio. gosto de alturas, suspensões, magia. não levo jeito para a grande massa. a noite me consome, e ainda assim a prefiro. depois vem a insônia. ando tensa, e já tentei disfarçar. não está dando mais. o sono é curto, o sonho é estanque. solavanco e muitas vírgulas, que faço questão de botar em negrito. introspectiva, para dentro do meu próprio espectro. gosto muito de observações. brinco de perícia meta-sensorial e sigo em busca do inconsciente. entretanto, não dá mais para me iludir, e retirar dos fatos revelações mais físicas, materializadas. sinto algo quando alguém esbarra em mim na rua. sinto quando invadem o momento em que perco meu olhar em um ponto no espaço urbanóide. a questão é, o que eu faço com isso tudo? despejo no blog, em forma de signos, códigos que certamente vão classificar como auto-ajuda. deixe o devaneio. estou em frente, no fronte. dê-me o ópio vital. não posso mais esconder minhas sombras. a projeção está armada. o circo já anunciara o próximo número. eu continuo observando o mundo dentro de seus próprios vícios, enquanto minha mente sonambula sozinha em outra calçada
.
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Morros uivantes

"...mas era como se, sozinha, com um alpinista paralisado pelo terror do precipício, eu, por mais inábil que fosse, não pudesse senão tentar ajudá-lo a descer..."

(extraído de A Legião Estrangeira, Clarice Lispector)


Vida bandida
o trânsito interconexo de caricaturas
a anestesia hilariante do álcool
da vida
meus traços relaxam no meu rosto crú
enquanto observo o aprendizado do jogo.

Não nasci para jogar
troco as peças em minha doce incosciência
penso em uma sobrevida
mas a vida real é soberana
e me absorve toda num exagero desconexo
e me confunde toda na multiplicidade das possibilidades

Já quis Lobão, Cazuza, Lou Reed
Já tentei serenidade quando sobrevivi
em um pêndulo transnacional
Agora nem sei colocar em palavras
o que pode ser o início deste furacão

Estou pagando pra ver
espero o sinal no outro lado de um morro uivante
uma luz, um farol quebrado
que pode mudar de lugar a qualquer momento.