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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Flutuações I





Condensação
Exausta e alucinada
Um dia de flores astrais
com pólen cintilante
Luz da noite
que leva parte de cada
do todo
Mistura o que estava guardado
em formas de cristal
Libertação da terra e do ar
Pelo vento amanheço (coração)
Na água, corpo submerso
contra tensão da superfície
partículas e gotículas
livremente presas
sem querer
Em uma nota só:
Amor.





Trilha sonora:

Mysteries
(Beth Gibbons)

God knows how I adore life
When the wind turns on the shores lies another day
I cannot ask for more

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Oh mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fora de Controle - A busca por outra fenda

O olho na fenda
espaço recriado
formas compostas
compondo a solidão humana.
O olho na fenda
e a luz que ressurge
trazendo à tona
o vazio e os percalços
a liquidez
a busca
por outro olho, em outra fenda
(secreta)

Sem controle
e sem devaneios
sem morada
sem jogos de azar
O ermitão caminha
e busca o seu topo
(no interior da caverna)
Busca imagens nas sombras
lúdicas formas de expressar
púdicas formas de sofrer
e amar
O ermitão busca a sinestesia
de seus passos
de suas mãos tateando por luz
de seus lábios recitando
o temor e o ardor
das palavras
reais e inconsumíveis

A luz pela fenda
Os olhos de outra alma.




Referência: Fuera de Control
Curta-metragem de Sofia Carrillo (México, 2008)
19o. Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo


sábado, 23 de agosto de 2008

A passagem






Vale de luz e sombras
de discreta insanidade
Paisagem entrecortada por raios cósmicos
Desmontando a cena
Recriando a forma recôndita
por trás do olhar

Um vale de gigantes
asteróides
No tempo inexato das palavras
presentes na mente de quem sonha

Que desejo o sonho brinca que esconde?
Que sentido existiria para o vôo
em um vale com tão belas flores?

Teletransportada sideralmente
Inequivocadamente entre o sol e a lua
Para sentir o salto cego
Do ancião do espaço

O vale do fruto proibido
com passagem solitária pelo arco-íris
A iluminar a retina
Do cego que salta.



***





Foi quando as mãos atingiram
A porção delicada do que estava fora
do lado de dentro
A fração sonora dos passos
No caminho irreversível
Em um instante lapso
de intimidade e vibração
O movimento em direção
ao segundo seguinte

O espelho da alma
O lago no meio do vale
de cores e crenças
conceitos e cristais
Representação simbólica
da profundidade da passagem
contínua e pontilhada
Conta-gotas da visão.





Trilha sonora: Valley of the Queen (Ayreon)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Revés da insônia amorosa





Hoje tentei outra comunicação com o mundo: decidi fazer parte dele. Saí do entorno e rompi alguns limites. Recortei algumas fronteiras entre a névoa que se formava. Vi cores e seres de entidades duvidosas, divinos em tamanha imperfeição. Nunca vi tamanha beleza, em caricaturas e máscaras de porcelana inquebrável.


Tornei minha estrada permeável e tortuosa para que pudesse estar em qualquer lugar, para poder encostar um dedinho que fosse no caminho que levaria ao amor, ao som de flautas e clarinetes mágicos...Mas existe mesmo o caminho do amor? O andar transformado em passo flutuante, olhos de luzes? O amor existiria? Transformaria a angústia, tantas dúvidas?


O amor parece-me algo sobrehumano, sobrenatural; sobreviver sobre todas as coisas! Ele existe!? Sim..! Edifica o que o mundo liquidifica. Traz poesia e melodia à barbárie... traz aquele desejo secreto de criança que desperta em meio ao campo em uma tarde de verão... Traz a noite estrelada quando fecho os olhos e nem preciso dormir...


Meu peito arde em uma chama que embala minha aflição feminina. Contorço-me para ver se espremo meu caminho para o canto e assim, te descubro em alguma pista perdida no espaço. Meu peito deseja, minha mente sente, meu coração transporta todo meu corpo para terras inabitáveis. Minha imaginação de algodão doce sublima a tela refeita. Meus dedos aquareláveis tentam chegar ao teu traço e uma paisagem nova se cria com cada sentido reformulado...


Obra inacabada, meu maior desejo! Que para sempre acredite, mesmo que mudem os planos e as diretrizes... Que sinta-me tão livre no amor que possamos ser um só vôo, em qualquer estação... Que te sinta tão morno que adormecidos sonambulemos o segredo da vida.


Balões de êxtase profundo carregam minhas lágrimas para frutificar o solo árido, sem amor. E que ali, renasçamos a cada dia... com a flor selvagem da descoberta de nossas almas nuas e luminescentes... Almas de puro amor liquefeito.


***
Escrito nesta madrugada, 11 de agosto de 2008. Um brinde à insônia e à agitação do que está guardado aqui dentro...

Trilha sonora: Paul McCartney

***
Todos os últimos post uma referência à artistas cubanos.


Imagem: Lourdes Betancourt

A hora de revelar...

... o que seria esse sonho.

Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés

Era como um trem
Que anda sem passar
Era um tempo sem
Lugar

Mas
Foi um sonho bom
De sonhar porque
Me sonhava com
Você
E então seu canto veio me acordar

Era uma ilusão
No interior
De uma outra ilusão
Maior

Mas
Você foi pro sol
Noite me envolveu
Num silêncio igual
Ao seu
E então seu canto veio me acordar

Tudo é uma ilusão
Os que estão aqui
Esses não estão
Em si
Do universo, o além
Faunos ou mortais
Vão restar mais nem
Sinais
...
Última ilusão
Amanhece já
Vai-se abrir o chão
Quiçá
A ilusão se esvai
É uma cena só
E a cortina cai
Sem dó
Vai cessar o som
A sessão já foi
Despertar é bom
Mas dói


Cantiga de Acordar
(Edu Lobo e Chico Buarque)


domingo, 10 de agosto de 2008

Quase memória




E agora?
Abri os olhos... é chegada a hora de acordar. No entanto, como acordar se eu sou uma insone convicta..? Teus olhos estão dentro dos meus, estão nos meus sentidos. Sinto a tua respiração e me sinto absorvida por cada poro. Como te sinto, assim, frente a minha liquidez? Seus olhos me devoram, e me tocam o inconsciente. O que vejo em minha frente é água... A água salina de um mar de pétalas brancas...
Eu quase toco seus lábios... Não sou alta o suficiente para te atingir, arco-e-flecha-coração... O vento nos ronda, atento. A minha fragilidade arromba paulatinamente a sua fortaleza imaginária.
Dissolvo-me em completo líquor para ser sua bebida vital. E não sei mais o que é meu ou seu, nem quando...
Aonde estão meus olhos, se apenas os sinto doces..? Estamos perdidos em um único encontro. O invisível nos carrega para um território neutro e distante de tudo. Ali, flutuemos em um novo desejo...
O que desejo..? Um SONHO.


Imagem: Orestes Gauliac

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Hermenêutica



A interpretação das atitudes humanas
interpelada
em novelos voadores
Atirada pela ausência do vidro
na ilusão de janela.

Cultura do pensamento
Evolucionismo surdo
à palpitação do ambiente
redimensionado e coibido
por valores tão puros quanto atrozes.

Deserção em massa
Gritos no silêncio
percorrido, em pista de chumbo
A natureza que compreende sem
premissas
mediações incastas da cultura
Produzir e não ser,
sentir a leveza do envolvimento.


Imagem: Odilia Mezquia


sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio..."



Por Clarice L., para quem quer que seja... em todos os lugares e estados da matéria. "Voa" caminhante e pendura teu guarda-sentimento que aqui tem chuva.



Caminhante Noturno
(Os Mutantes)

No chão de asfalto
Eco, um sapato
Pisa o silêncio
Caminhante noturno
Fúria de ter nas suas mãos
Dedos finos de alguém
A apertar
A beijar

Vai caminhante, antes do dia nascer
Vai caminhante, antes da noite morrer
Vai caminhante

Luzes, câmera
Canção, que horas são?
Sombra na esquina
Alguém, Maria
Sente a pulsar
Um amor musculoso
Vai encontrar esta noite
O amor sem pagar
Sem falar
A sonhar

Vai caminhante, antes do dia nascer
Vai caminhante, antes da noite morrer
Vai caminhante

No chão vê folhas
Secas de jornal
Sombra na esquina
Alguém, Maria
Pisa o silêncio
Caminhante noturno
Foge do amor
Que a noite lhe deu sem cobrar
Sem falar
Sem sonhar


Imagem: René Magritte