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sábado, 23 de junho de 2007

Vambora!


"O tempo é o maior tesouro do qual o homem dispõe.
Embora inconsumível, o tempo é nosso melhor aliado..."


Voltei pronta e disposta a virar a mesa e sair andando.

Sentir o vento, caminhar sem olhar para trás. Sorriso no canto de olho. Óculos de sol. Sambalançando. Sem saber exatamente aonde vai dar meu descaminho... sigo e sobrevivo com um ar de graça e leveza.
Eu sou a outra.


terça-feira, 19 de junho de 2007

Last Night...


A noite obscura e curva. Só mais uma dose de conhaque... mais uma tentativa. Preciso mais do que nunca me testar. Testar meus limites, meu raciocínio e meu sexo.

A velha ciranda pelos corredores do Valentino. Os olhares através do espelho. Olhos ansiosos e corpos transpirando instinto. Lou Reed na vitrola. Quadros e imagens registrando o encontro com o desconhecido.

Beijos casuais, toques e propostas irrefutáveis noite afora. Voltar para casa no tédio, ou na adrenalina, com medo ou no cansaço pós-tesão... Aquele tesão mascarado por fantasias underground, visões oníricas de paredes sob a luz negra, dúvidas, fumaça, frenesi, bolhas mágicas de sabão e alguma poesia.

Todas querendo ser Capitus, em busca de um Romeo passional e denso. Buscando a feminilidade resguardada. A paráfrase velada. O sentido desconexo de nossa essência.

Causa e efeito da natureza. Sonhos e tecidos ao vento. Fomos todas livres e mente felizes...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Tira as mãos de mim!


A vontade de correr era muita. Rápida e sorrateira entre arbustos. Algo me fazia agonizar. Era a idéia martelando em minha cabeça. Aquelas mãos, os movimentos, o existir... faltava algo. Algo que eu saberia o quão distante de mim estivera. Porque buscar sempre a poesia? A busca por ser poesia ininterruptamente. Não apenas pedaços, a fragmentação da carne.

Eu queria ser cores, divertidas e autônomas. Mas você era de um branco agonizante... claro e luminoso aos meus olhos e sorriso. Você era a visão mágica da fusão que eu desejava. E acabamos num negro absoluto. Apenas uma chance de passagem secreta para nosso mundinho perdido, que ambos preferem guardar para depois... e a certeza de que as buscas continuam...

A tristeza sempre no canto do olhar. Apesar de toda alegria e desprendimento, você sabia para onde meu olhar me levava. Os descaminhos... eu podia ser Bárbara ou Ana de Amsterdã, sua natureza discretamente transgressora aceitava. Descobri muito tempo depois que você me deixava mais íntima de mim. E ainda escovava os meus cabelos com a doçura de um irmão.

E por que de tudo isso? Eu sabia o preço dos meus jogos... e ainda assim, me lançava, trapaças... Perdi um pouco da sua luz, hoje, especialmente hoje. Por minha causa. Meu instinto. E tenho visto que as borboletas continuam em sua diversificada dança, enquanto nossas estrelas estão cada vez mais distantes...
P.S.: Música "É minha!" - Marco Antônio Guimarães (Lavoura Arcaica)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Jardim de Prazeres


Ali, encostada e respirando a suavidade do dia, da claridade amena, perto da luz, perto do sol, ela seria induzida ao erro mais sincero e óbvio. Leve, bem leve brisa do dia, do vento que transpassava endiabrado por suas entranhas... os sentidos confusos, a visão que de tão translúcida, escondia a essência da perdição. O perfume de maçã verde intoxicava o ambiente. Já não era mais seca, nem áspera. Sempre tivera esperança de se encontrar...

A sensação era de inspiração máxima. Do ar, do vapor de um banho quente de inverno... chegando a adormecer cada articulação, sentindo-se completa. Lara nunca havia enxergado a possibilidade de arrebentar a ostra... caminhar de forma tão livre e ao mesmo tempo, tão repousante pela grama. O dia emitia partículas iluminadas, e suspensas por instantes, pelo sentido maior de todas as coisas. Parecia magia perante os olhos tão fatigados de Lara. Não mais olhos de águia, mas com a mesma avidez pelo inédito, pelo sublime senso de existir.


Em sua natureza prolixa, nada surpreenderia. Já fora ousada; já fizera do sexo, sua arma para um jogo quase mortal. Agora estava sentindo-se, de alguma forma, fraca, fragilizada. Não havia de ser apenas pelo cansaço, o físico. Sentia-se abatida pelo tédio, pela necessidade de jogar nas relações humanas. Não tinha mais aquela força toda imperativa. O corpo desejava fundir-se com as árvores e os arbustos. Com a terra, com as flores tão férteis, tão vivas, tão sexuais, sem um preço tão alto. Uma orquídea pura e selvagem aberta, marcada pela natureza.
P.S.: Crédito de imagem - "Jardim de delícias" (Boch)

terça-feira, 5 de junho de 2007

Atropa beladona*




Eu queria voltar. Conseguir olhar para trás e sorrir. A velha idéia derrocada, de menina de tranças caídas e mal-feitas, rodopiando e se enrolando na própria saia. Abrir os braços com verdadeira alegria de ser. De sentir, de viver, de respirar o doce orvalho, a brisa que envolve o dia. É como se fosse o grande dia de pedaladas leves com o cabelo preso. O sorriso no rosto, o movimento nas pernas. A música pelo corpo todo. Em cada segmento, uma batida diferente. O toque no guidão de uma aspereza tocante, o olhar distante e vidrificado pelo ar límpido e por imagens tão recortadas. Eu me vi nesta lembrança, e revisei tudo com o olhar de uma águia. Eu estava com sede de ópio.


P.S.: Créditos da Imagem: Animação "História Trágica com Final Feliz", de Regina Pessoa.

Fragmentação - Parte I


No meio do caminho, o abismo. Eu não sei pular, nem correr. Eu sei apertar minhas mãos no frio congelante. Sei espremer cada olho para que nenhuma lágrima caia ali, nenhuma água venha a umedecer a terra, nada para plantar nem ver crescer. Eu estava ali, de corpo presente. Mas meus pensamentos e sentidos já haviam viajado pelo vento há tempos... Uma gota cristalizou o néctar do desespero. A angústia gritando e arranhando a garganta. Meus lábios vermelhos e ansiosos pela grande hora. Eu estava ali. Numa lucidez assombrosa. A pele brilhava e refletia a iluminação do Deus-Sol. De alguma forma eu estaria interligada com os astros...