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quarta-feira, 6 de junho de 2007

Jardim de Prazeres


Ali, encostada e respirando a suavidade do dia, da claridade amena, perto da luz, perto do sol, ela seria induzida ao erro mais sincero e óbvio. Leve, bem leve brisa do dia, do vento que transpassava endiabrado por suas entranhas... os sentidos confusos, a visão que de tão translúcida, escondia a essência da perdição. O perfume de maçã verde intoxicava o ambiente. Já não era mais seca, nem áspera. Sempre tivera esperança de se encontrar...

A sensação era de inspiração máxima. Do ar, do vapor de um banho quente de inverno... chegando a adormecer cada articulação, sentindo-se completa. Lara nunca havia enxergado a possibilidade de arrebentar a ostra... caminhar de forma tão livre e ao mesmo tempo, tão repousante pela grama. O dia emitia partículas iluminadas, e suspensas por instantes, pelo sentido maior de todas as coisas. Parecia magia perante os olhos tão fatigados de Lara. Não mais olhos de águia, mas com a mesma avidez pelo inédito, pelo sublime senso de existir.


Em sua natureza prolixa, nada surpreenderia. Já fora ousada; já fizera do sexo, sua arma para um jogo quase mortal. Agora estava sentindo-se, de alguma forma, fraca, fragilizada. Não havia de ser apenas pelo cansaço, o físico. Sentia-se abatida pelo tédio, pela necessidade de jogar nas relações humanas. Não tinha mais aquela força toda imperativa. O corpo desejava fundir-se com as árvores e os arbustos. Com a terra, com as flores tão férteis, tão vivas, tão sexuais, sem um preço tão alto. Uma orquídea pura e selvagem aberta, marcada pela natureza.
P.S.: Crédito de imagem - "Jardim de delícias" (Boch)

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