sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Sem dimensões
brotam círculos negros
Entre pousos
brotam libélulas sonhadoras
Entre musgos
ressoam buracos-negros
Estou em qualquer plano
sem ser, sideral.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
A sombra de uma janela

Hora de descer.
Para onde? Para que lado? Qual a direção da luz?
Pouco importava. Bela sentia-se plena para o passo, cuja sombra seria enterrada no asfasto selvagem. Sem sombras, livre seguia, ao encontro da grande revelação.

Revira e volta
Sonho projetado
em tantas janelas.
Refaz e transforma
a luz da lua
em derivados sentidos.
Eu sou o lobo do homem
Enquanto ele esteve dormindo
Eu sou a fera além da mulher
Enquanto ela esteve sentindo
Sólida mente que parte
com o vento que entra,
pela janela aberta
Remoto controle que rompe
com qualquer vestígio
pelo impulso de qualquer crença.
Partimos, sem pistas
Ao abismo!
COLORIDO.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Entre feras e deuses - I - Ártemis
*Trecho extraído dos Hinos Homéricos
Arte em transe
Arco e flexa, devaneio
Dispara longe!
Avidez à luz da flora
Faunos, rápidos, claro espasmo
cintilante!
Voa longe para o alvo
estrangeiro sorrateiro
Animal acelerado
Animal que nem se move
Mente sã no caos elástico
Rompe a teia que se forma
Vê com olhos que explodem
Lucidez ao que me toca
Luta sem o que te tente.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
A Era da Luz


Era tarde, mas parecia o início de um novo dia.
Tamanha claridade, que quase cegava seus olhos negros. Era o laranja intenso do sol que se recolhia, na posição contrária ao horizonte. Estava ali... faixa luminescente que carreava 1000 percepções por segundo. Preferiu fechar os olhos e sentir a delicadeza da vibração dos cílios aflitos... ávidos pelo latente amor que vinha do sol.
Era ele... somente ELE. O sol vosso de cada dia. Sua luz era profundamente sonora, com suspensões desenhadas pela divindade do universo. Era energia. Perfazendo o caminho que criava a intersecção entre espaço e tempo.
Estava ali. Com olhos fechados e corpo adormecido pelo êxtase da luz e do calor. Sem perceber, flutuava. O campo de flores microscópicas havia ficado a alguns centímetros... e sua luz fecundava a natureza que resistia a condições inóspitas, agrestes. Fecundava luz e recriava a infinitude. Lascivo repouso, suspenso.

Trilha sonora: O amor que move o sol - Egberto Gismonti
sábado, 18 de outubro de 2008
Bárbara!

"Corre menina, corre que vai se atrasar."
E lá saía ela, uma mochila nas costas os cabelos soltos, os anéis castanhos, quase revoltos, um cheiro de lavanda. Limpinha. Corria para o ônibus. Coisa mais sem poesia na vida é andar de ônibus, mas não para um rapaz que estava ali naquela hora. Barbara chega apressada e se joga ao seu lado. O decote displicente mostra o seio branco, franco, macio. Isso é poesia. O sorriso dela não percebe a alegria dele. Barbara desce antes e corre.
O coração do menino correu junto. Pena que não a alcançou.
*Texto-testículo de Lucas Canha, extraído de www.nageladeira.blogspot.com
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Contra o tempo
Corra!
Sem tempo para a desesperança.
Com o vento
Viagem sem rotas
Horizonte contínuo.
Com o tempo,
O vento
no sonho do homem desconhecido.
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Bárbara. Sempre gostara deste nome. Parecia forte, livre.
Forte mesmo era o seu primo, que a suspendia no ar, como se assim pudesse tocar o mundo das fadas.
Desde criança, era Bárbara a menina dos olhos da vizinhança... leve, com vestidos coloridos, cabelos despenteados de forma tão displicente. Passava horas no balanço, entretida pelas sombras desenhadas na areia, sem perceber que era observada por diversos ângulos.
Ficava ali, entretida em um reduto de fantasia e solidão, no mesmo vazio que a acometeria anos mais tarde... tomada por inteiro, pelo sol que queimava a carne e a alma de uma pequena pureza que deixara de pertencer a todos ao seu redor, escondidos em suas casas de areia...
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Surrealismo caótico

Estamos dentro, mas assistimos a tudo de fora
Sentados em nuvens, tocamos a paz?
Não há nada além da ilusão de controle.
Queimando as pontes construídas
E ver o sonho fundido na fumaça branca
O que existe além da ilusão de óptica?
Você brinca de rei, na terra do caos
Em um tabuleiro tridimensional
Enquanto o próprio caos se remonta na forma
de rosa mística
E nos convida para mais uma dança...
Sim!
Estamos no centro do fogo
Envolvidos pelo próprio caos,
enovelados pela atmosfera dos sonhos
E não há definição de domínios espaciais ou temporais
Apenas somos tudo o que nos consome a alma
Sinta o sabor de todo contraste
Deixe os pulsos expostos
O caos nos seduz
à luz da verdade.
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Trilha sonora: High Hopes (Pink Floyd)
beyond the horizon of the place we lived when we were young
In a world of magnets and miracles
our thoughts strayed constantly and without boundary
The ringing of the division bell had began
...
At a higher altitude with flag unfuried
We reached the dizzy heights of that dreamed of world
...
terça-feira, 14 de outubro de 2008
O lustre* - A hora de desprender luz

Liberta-te!
Trocadilhos metamórficos
dos elementos.
Que viagem rumo
ao topo da existência
onde sou fera, serpente,
fruta e ser assexuado.
Liberta-te!
É tempo de florescer
e renascer luminescente.
A gota límpida
e translúcida, que escorre
singela e pura de minha alma.
Libertemos a dor
que sufoca, prolifera e trucida,
mazelas humanas
pelos cantos do mundo.
Liberta-te!
Cítrica e ávida,
na vastidão dos sentidos.
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FRAGMENTOS*
* Trechos de O Lustre, de Clarice Lispector.
No entanto ele formara no seu interior um núcleo longínquo e vivo e jamais perdera a magia - sustentava-a sua vaguidão insolúvel como a única realidade que para ela sempre deveria ser a perdida.
...
Quis responder e dizer que sim, que sim! ardentemente, quase feliz, rindo com os lábios secos... mas não podia falar, não sabia respirar; como perturbava. Com os olhos dilatados, o rosto de súbito pequeno e sem cor, ela assentiu cautelosamente com a cabeça. O coração batendo num corpo subitamente vazio de sangue, o coração jogando, caindo furiosamente, as águas correndo, ela tentou entreabrir os lábios, soprar uma palavra pálida que fosse.
Como o grito impossível num pesadelo, nenhum som se ouviu e as nuvens deslizavam rápidas no céu para um destino.
...
Andando pela estrada, o sangue voltara a bater com ritmo nas suas veias, eles se adiantavam depressa, juntos. Sob o céu brilhante o dia vibrava no seu último momento antes da noite, nos atalhos e nas árvores o silêncio se concentrava pesado de mormaço — ela sentia nas costas os últimos raios mornos de sol, as nuvens grossas tensamente douradas.
...
Os vagalumes abriam pontos lívidos na penumbra. Pararam um momento indecisos na escuridão antes de se misturarem aos que não sabiam, olhando-se como pela última vez.
...
Os olhos ganharam uma vida perspicaz e cintilante, exclamações contidas doíam no seu peito estreito; a incompreensão árdua e asfixiada precipitava seu coração no escuro da noite.
...
Então — não era o alívio nem de fim de susto, mas em si mesmo inexplicável, vivo e misterioso — então ela sentiu um longo, claro, alto instante aberto dentro de si...
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Pulsações - Dentro do sol

Sim, cada palavra lida na vida desnuda que revoluciona aqui dentro.
Queda livre, com a voracidade selvagem de ser.
Braços abertos e coração liberto.
O que me tornarei? Impossível prever. Oscilo e danço em um pêndulo gigante, suspendendo meu corpo e meu espírito... O vento é a ânsia precisa por me sentir dissipada. É este o segundo em que me vejo a única verdade possível.
O futuro não me cabe. Meus ombros e pálpebras não o suportam. É apenas o presente que me toca, em um jogo de dominó desempilhado. As peças reluzem, e o sol, hoje, queima e transforma meus sentidos.
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Lost in thought and lost in time
While the seeds of lifeand the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life
I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And headed straight..into the shining sun
*Lyrics by Pink Floyd - Coming back to life
What do you want from me?

Fechar os olhos de fora. E abrir a parabólica de dentro...
Sou um sensor sem senso comum, que escolheu a captação sonora de existências contraditórias. Alguém esteve presente, no andar de cima. Sapateados ao anoitecer...
Ouço o inaudível, e sinto-me livre, e ao mesmo tempo distante de tudo. Anos-luz para me encontrar novamente. Estou voando na minha absurda falta de lógica.
Não poderia mudar a posição das pétalas despedaçadas nos jardins selvagens... mas me transformo aleatoriamente na metáfora além do risco...risco de ser, de me perder, de ser encontrada, de estar distante do meu “eu” espacial, de ver as entrelinhas recortadas pelos outros, pelo todo.
Inicia-se um novo ciclo, dentro do próprio círculo de fogo... algo que dificilmente será encontrado pela consciência daqueles que estão na superfície...
Metáfora-camaleoa que brinca no princípio de mais um dia.
You can have anything you want
You can drift, you can dream, even walk on water
Anything you want
Vozes ressonantes me conduzem.
As marcas dos passos são termossensíveis a extremos. Caminho sob pedras, de água-viva.
Medusas e pólipos encantadores, suprimidos pela falta de sonho dos homens...
You can own everything you see
Sell your soul for complete control
Is that really what you need
Absinto dilacerante que remonta ilusões.
Remoto controle de emoções, em um trem descarrilhando pela montanha-russa
Você está perdido?
You can lose yourself this night
See inside there is nothing to hide
Turn and face the light
Entrego-me à luz.
E a partir dela, recrio a poesia dilatada pelo toque de minhas mãos,abstratas.
*What do you want from me - lyrics by Pink Floyd
domingo, 12 de outubro de 2008
Pulsações - Como nascem as estrelas?
E assim nasceram flores no campo celeste...
ESTRELAS.
Se um buscou furar o céu da primavera
com um cometa veloz e totipotente
Outro silenciou na aridez serena
das noites no deserto
De volta ao prado, aos prantos
onde a expressão do movimento
encontra-se distorcida pelo tempo
Sou aquela, e não a outra
que sonhara com o inatingível
universo liquefeito
em música, caos e poesia.
Tu, ser de unidade clarividente! Preparo com minhas próprias mãos, sem luvas radioativas, parabólas em sonata, sinestesia e sincronismo... Parte para todos os lados, neste abismo elipsóide... que não existe retorno ao porto invisível.Esta é a grande miragem desmistificada.
São tantos caminhos, partidas e chegadas... que não se sabe mais para que lado fica o princípio e o precipício, muito além das palavras. A leveza e a destreza de tantos encontros, mesmo que nos desencantos, trazem a visão paradisíaca desta pulsação vital e sonora, que torna crua a nudez de toda alma...
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Ritual II - Sem olhos

Desconheço sua face
O que vejo é o que sinto
O que vês, não pode ser traduzido
Os amantes
brincam na aurora entorpecida
escondem secretos desejos
no indizível mundo dos homens
Os amantes
arrebentam a tenacidade das fronteiras
Onde o sonho revela-se em vertigem
miticamente poética
miticamente possível
Desconheça o que pretensiosamente busca
em outros olhos, ao amanhecer
E sem livre-arbítrio entregue-se
pois o amor não tem dia, nem noite
apenas cores metafísicas no infinito...
Crédito de Imagem: Os Amantes - Rene Magritte
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Ritual I - A palavra

O tempo que tenho é pouco
Um pouco de tamanha intensidade
que muito transfere: atomicamente ativa
Pouco tenho a oferecer ao banquete de formigas
força lúcida para a luta glasnóstica,
sem teto e sem desordem no movimento
Sou a sua como qualquer outra
palavra que ficou na limítrofe superfície
afundada na invisível estratosfera
Fundida, no fundo do fogo
A palavra, no revés da lógica
dilata o signo
e recria o símbolo
Parte desprendida em poesia
organizando a prece particulada
com senso de infinito
com gestos sem vestígios
com letras orquestradas:
A música do precipício.
Crédito Imagem: Renè Magritte
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Echoes
Cada relacionamento nos propõe algo. E não é exterior... propõe uma nova ordem interior.
Speak to me/Breathe
Ouvir pink floyd sempre me levou pra longe... tão longe e tão profundamente ao encontro com a verdade que está aqui do lado de dentro. Casou perfeitamente com a percepção de mundo que vinha se revelando... matéria e pensamento.
Learning to fly
Uma amiga esteve com o olhar distante, visceralmente cansada do mundo... o peixe pulara do aquário. Capitu desprendeu toda a opacidade que a emudecia, saltou, em uma manhã ensolarada, com sombrinha vermelha e agora consegue transar uma arte surrealista ao som de Heart of Glass...
Um amigo esteve sentado na encosta... recobrando o fôlego. Fazia de si o próprio cavalo, treinado para uma guerra nunca vista. A armadura tinha aparentemente a forma do mundo, para que pudesse canalizar o que fosse necessário para manter o sonho dentro do sonho. E conseguiu levantar-se a tempo de seguir com o vento, para o desconhecido...
Um anônimo cruzou a grande avenida a passos largos e firmes, cintilando na luminosidade da metrópole. Seus olhos só diziam algo para ela, que estava do outro lado, no revés da highway. Virou-se por um segundo. Ela não mais existia ali. Existiu em algum lugar..?
Será que nestas palavras vou me permitir ser transparente? Ápice.
A verdade e nada além dela.
Shine on you crazy diamond.
A transformação do tabu em totem

Domador: - Nós somos a caricatura da eterna luta dos sexos, bailarina... Se eu não masoquizar o prazer, o que seria da ordem patriarcal do mundo?... O prazer livre e irrestrito é anarquia, a loucura e a quebra dos mecanismos da sociedade... A mulher é o prazer total, e eu sou o domador desta consciência.
Bailarina: - Tirano de si mesmo, liberta-te! Quem doma o prazer total é o amor e não o chicote... Não se paga o prazer com a dor, mas com o amor... eu sou a consciência, e você é a repressão. Esta é uma luta primordial...
(José Roberto Aguilar - A Divina Comédia Brasileira)
Crédito de imagem: Carlos Florêncio
Suspende
prensa
presa minha
Surpreende
suspenso
próprio peso
Sacrifica
sádica
suave movimento
Simboliza
sincronia
de pólos ardendo.
O silêncio

Deitada em posição fetal
fechada para apenas me sentir
sentir a dor nas entranhas.
Não quero que nada externo
me afete, perfure ou atinja.
Deixe-me só
para apenas me sentir
e refletir sobre meus passos
neste mundo.
Não posso exposições neste momento
quando tudo ainda está turvo
Preciso encontrar estrelas
em minha noite silenciosa,
assim como um feto
buscando proteção imaginária.
Deixe-me
no meu estático silêncio
procuro flores para me dar
quando amanhecer
e o sol descolar minha retina.
O feto nada para o nada
e distante fica
dos desencontros com outro olhar,
de outros corpos
buscando-se no vazio
que não me preenche.