Tanto fazia se era a Lua ou a Medusa... poesia. Eram Júlia, Isabella e Marina, com olhares revestidos de maresia, pele e vestidos incorporados ao sol e ao fino sal...
Júlia, da janela, estendia tecidos perfumados ao vento... tingia o crú algodão de rubro, da cor de sua paixão pela vida, em uma bacia reluzente como seus olhos de abelha-rainha. Seu homem, talvez nunca de fato fora embora, nem se sabe se existira em algum tempo, ainda que a ilusão fizesse tua arte, teu sexo, e quiçá, fragilidade. Suas mãos lavavam o limiar grão da imortalidade, e cobriam com plumas naturais os pecados desta terra.
Isabella, aceitara sem resignação, a espera, em tempo infinito, de seu homem a completar sua metade ausente, sua metade doce... Desligava-se facilmente do mundo, do porto e de sua gente, para viver em uma atmosfera imaginária densa, com angústia e graça, devoção e leveza... para transpirar o amor em suas entranhas. O balanço de seu corpo, em carne lasciva provocava uma oscilação naturalmente perturbante afim de mergulhar até o fundo de sua alma, e quem sabe nunca voltar...
Marina, com o ar de quem muito se preza, inspirava o descaso de ser uma mulher de vila (de Athenas?) mas era na cidade grande que sua mente vivia, no território do impossível e do incerto, nas notas das canções, em suas feiras e movimentos de oferta. Com seu toque de sedutora indiferença a uma cultura rude, e olhos com sagacidade translúcida, espreitava, sentada, o segundo oportuno de partir com a trupe... partir para qualquer lugar, qualquer terra distante.
O acaso inverteu a ordem das páginas...e misturou, com ousadia, as vidas das 3 grampoulas... extendeu uma rede desenhada por cosmonautas extracontemporâneos. Assim, o vestido rubro foi recortado por sonhos, a trupe carregou as divagações apaixonadas junto com o pólen desprendido da modernidade. O instante do mergulho foi paralisado, e translocado para o avistar do horizonte, pela janela... A janela parece a mesma, avista o mar, os sedimentos, e bonecos de cacau com molduras diferentes... A refletida imagem pelo vidro arenoso multifocal, diverge em largura e altura... A visão, imprecisa, transfere a matéria para o sonho e o sonho para a insensata experiência humana que tende a saltar do cais.
*Para Bi e Lê, com carinho...
Trilha sonora:
Umas e outras
Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor se reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar
Por isso às vezes ela pára
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar
Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão
A vida é sempre aquela dança
Aonde não se escolhe o par
Por isso às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar
Mas toda santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
E a outra, triste namorada
Coitada, já deitou com os seus
O acaso faz com que essas duas
Que a sorte sempre separou
Se cruzem pela mesma rua
Olhando-se com a mesma dor
Que dia! Cruzes, que vida comprida
Pra que tanta vida pra gente desanimar...
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